domingo, maio 11, 2008

31 Dezembro de 2004

Almoço com o Luís Carlos

12h30m - Encontro no Galeto com o meu amigo Luís Carlos, para o tradicional almoço bilateral do último dia do ano, no “Haxágono Mais”. Ele vem apetrechado com um “Neura 2004” para eu autografar. Eu ofereço-lhe um “De boas erecções está o Inferno cheio” e dois Rabos. Pomos a conversa em dia e depois meto o Luís Carlos no comboio.

18h15m - Estou no El Corte Inglés. Vejo o último filme do John Waters, o “Filme Indecente”. A Tracy Ulmann está espectacular. Adormeço um bocado. Acordo com uma erecção e um nadinha assolipantado. À saída encontro um elemento da Tertúlia BD, que tinha ido ver o “Alexandre” e não achou tão mau como isso.

21h - Janto em casa. Lisboa está quase parada.

22h - Começo a ouvir o programa especial de fim-de-ano do Aurélio Gomes, na RCP. Tenho o bloco ao meu colo, para tirar notas.
“Eu chamo-me Aurélio Gomes e espero estar à altura do que dizem aqui os Shalamar: ‘I can make you feel good’”.
Abano o capacete. Parece que os “blues” do final do ano desta vez não me agarram!

22h15m - “Ooooh! How do you like your love? (…) Baby, you know, my love for you is real (…) More, more, more, how do you like it, how do you like it? Ooooh! How do you like your love? (…) Girl, if you want to know how I really feel…”

22h20m - “When I wake up in the morning, love…and the sunlight burns my eyes (…) Than I look at you…”

22h28m - Agora por aqui Barry White: “Can’t give enough of your love,baby”.

22h35m - Saio de casa, para chegar, a pé, à Senhora do Monte, com calma. Levo o transístor ligado na RCP. Saio cheio de energia e bem protegido do frio, com sobretudo, luvas e cachecol. É a primeira vez que saio para passar o réveillon sozinho e em trabalho. Talvez por isso esteja animado.

22h45m - Estou em frente ao Técnico quando uma puta pedestre desconhecida se cruza comigo e sobe a rua. Fiquei banzado! Nem na noite de Ano Novo param?

23h25m - Chego à Senhora do Monte. Já lá estão umas 50 pessoas. Colo-me ao gradeamento, para ver o fogo-de-artifício. Sou o único paspalho de transístor ligado, mas ninguém me diz nada. Vou abanando o capacete e começo a sentir os primeiros sinais de solidão. À minha volta sinto uma alegria que não consigo partilhar. Mas fico satisfeito por ver que há por ali gente feliz. E cheia de frio! Ajeito a gola do sobretudo.

23h35m - Ao meu lado, um casal de jovens beija-se, enamorado. Ela é uma loura linda. Começo a ficar decididamente melancólico, apesar da música da RCP, que continuo a ouvir. As pessoas discutem a geografia de Lisboa, tentando identificar as luzes da cidade. Vemos algumas ambulâncias a entrar para S.José. Agora é que fico definitivamente melancólico. Parece que a meia-noite demora a chegar.

23h58m - A Moita e o Seixal devem ter um fuso horário diferente de Lisboa. Começa o fogo-de-artifício na outra margem.

24h - 2005! Aí está ele. Com o fogo da Câmara lisboeta rigorosamente sincronizado com a RCP! Toda a gente se abraça. Há passas. Há champanhe. Eu tenho um sorriso amargo a bailar-me nos lábios. Estou só no meio de cento e tal pessoas e não saúdo ninguém. Alguns chavais lançam montes de “very lights” que acertam nas árvores vetustas da Senhora do Monte, pegando fogo de maneira breve. O melhor é manter-me atento.

24h10m - Desço a correr, rumo ao Terreiro do Paço.

24h20m - Afinal fiquei no miradoiro de Santa Luzia. Aquilo está cheio de estrangeiros. Uma loura bêbeda, muito divertida (provavelmente britânica) anda a dar com os martelinhos na cabeça das pessoas. Sorrio. Sinto a alma a doer de tanta juventude e fé. Ela sabe desejar Bom Ano em português. Fico ainda mais melancólico. O ar cheia a pólvora.

24h35m - Apanho o Metro no Rossio, para a Alameda. Vai apinhado. Uma Babel.

24h50m - Em direcção a casa, deparo com uma auto-puta, no sítio habitual.

01h - Em casa, a ver o show do Crazy Horse na TV. Mais melancolia por um clube que já se finou. Estes espectáculos são de 2000 e 2002 e valem sempre a pena.

02h45m - A SIC e a TVI estão a dar filmes eróticos.
Venho para o meu quarto e finalizo o diário.
Finalmente caio em mim e compreendo que este não foi um livro como os outros.

A escrita foi fácil, sem pretensões, ao correr da pena e do esgotamento, aí a 30 por cento das minhas faculdades habituais. Mesmo assim, sei que me safo. É escrita, não é?
O problema é que me cruzei com muitas emoções, muitos olhares, muita noite. Não é por acaso que a capa do “Cidade do Strip” é um olho.
E uma stripper húngara, numa dessas noites, ungiu-me com os santos óleos da ingenuidade, como uma medalha:
— Há coisas que não podes perceber, porque não és da noite.
A noite dói. Cruza sonhos e solidões.
Custou-me sentir as dores por trás dos corpos. As angústias de quem tem de viver a vida a correr, de quem olha para os 30 anos como uma linha perigosa.
As coreografias de sedução também doem. Mas há sempre uma borboleta de ternuras a esvoaçar dentro de mim. Por vezes, funde as suas asas no olhar de uma donzela saída de uma ilha de brumas.
Foi por isso que este livro valeu a pena.
Só hoje o percebi. À coragem da auto-exposição do meu strip junta-se a descoberta de mais um bocadinho de mim.
Ponto final.
Parágrafo.

3h35m - Escorre-me pelo rosto uma lágrima de mel com travo de Campari. Os meus medos estão todos aí, Monsieur Mardi-Gras.
Ao dobrar da esquina.


FIM

segunda-feira, maio 05, 2008

30 de Dezembro de 2004

Trato de bué de coisas

10h - No banco, a pedir cheques.

11h - Na SPA, a registar o livro.

12h - Num posto Net, a apagar 35 mensagens, mais 5 de lixo electrónico.

13h - No Sindicato dos Jornalistas, a pagar quotas.

13h30m - A comer um Haagen-Dasz, no Chiado.

13h45m - Na FNAC, a comprar um álbum de BD.

14h - Na nova sex-shop Contranatura, ao pé do Trindade.

14h30m - Em casa. Almoço alheira. Estou exausto. Tenho mesmo de me ir deitar. De noite só dormi umas três horas, mesmo com bomba.
Durmo das 15h30m até às 20 e tal. Sinto-me muito melhor.

21h15m - Na hidro, com a Margarida. Somos cinco: eu, o Rui Cartaxo, mais um gajo e duas mulheres. Vitória! Mais homens que senhoras, pela primeira vez. Aula puxada mas espectacular, com a piscina toda por nossa conta.

23h30m - Jantar no Galeto, com um amigo.
Regresso a casa pouco depois da meia-noite. Leio jornais. Começo a ler o livro “Cidade do Strip”.

domingo, abril 27, 2008

29 de Dezembro de 2004

Uma noite no Cinebolso, com as “Enfermeiras Quentes”
Os gloriosos malucos do sémen voador


18 horas - Chego ao médico. As consultas estão um pouco atrasadas. Tenho tempo de ir ao Cinebolso ver os horários das sessões contínuas. É um bocado vergonhoso escrever um livro que escorre sexo e não frequentar uma única sessão num cinema pornográfico. Há uma sessão a começar às 23 e 15. Registo mentalmente. Custa 3 euros.

18 e 40m - Falo com o Rui ao telelé e dou-lhe conta das desventuras com o computador. Sou chamado para entrar para a consulta. Falo do esgotamento, peço o atestado para o Holmes. Sou auscultado (sobre os grandes temas da vida nacional e internacional), medem-me a tensão (12/7) e acabo a fazer um electrocardiograma, que me confirmou como uma pessoa de bom coração e elevada estirpe.

22h48m - Compro um bilhete para as “Enfermeiras Quentes”. Filme de Alain Payet, com as porno star francesas Katsumi, Nomi e Jane Darling. Tudo boa gente. A coisa promete. Os bilhetes agora tiram-se em maquinetas tipo Metropolitano. Entradas individuais e duplas. A máquina aceita notas e vários tipos de moedas. Depois mete-se o bilhete à frente do sensor e um torniquete abre-se para o corredor que dá acesso a bengaleiro, cinema e WC.
Há muita história naquele corredor. As vitrinas reproduzem um texto antigo do Alexandre Pais a protestar com as condições de visionamento no Roma, a propósito do “Amor entre mulheres”. Há cartazes porno antigos por cima das nossas cabeças, com estrelas como Amber Lynn ou Joanna Storm. Há também bilhetes antigos do Cinebolso. E fotos do tempo da projecção do “Salamandra”, do Tanner.
Durante um período em que foi do Pedro Bandeira Freire (chamava-se Quinteto) passou belíssimo cinema. Foi lá que vi o “Blade Runner”, o “Tubarão” (na mesma sessão que o Litos, actual treinador do Estoril), o “Utu, o último guerreiro”, o “Blues Brothers”.
Filmes porno, antes disto, lá nos meus 20 anos, só vi um. Francês. Mau como o caraças. Fui com um amigo e estivemos para levar um chocalho, para agitar cada vez que aparecesse uma actriz nova em cena.

23h10m - Resolvo entrar na sala, com um euro na mão esquerda,para dar ao arrumador. Mas qual arrumador? Não vi nenhum. Vou de sobretudo no braço e recuo prudentemente até ao “tombadilho”, que tem um varão de ferro, aí uns cinco metros à frente da cabina de projecção. Dá para passar de um lado para o outro da sala.
Encosto bem atrás e vejo todo o compartimento mergulhado na penumbra. As “Enfermeiras Quentes” estão na última cena, com um trio capitaneado por Katsumi a masturbar o paciente deitado na marquesa, a seis mãos, bem unidas, tipo mosqueteiros. Há o climax. Uma frase final. Leva aí uns cinco minutos, no máximo.
Bem, nestes cinco minutos aprendi um bocado sobre a vida. A sala tem para aí uns 30 ou 40 marmanjos. Mulheres, nem vê-las. Por baixo de mim, encostadas ao “tombadilho”, estão três cadeiras. Sem grandes dramas, o menino da ponta esquerda desata a mamar no vigoroso do senhor do centro, que está de boné de beisebol na cabeça, porque faz um sol do caraças no Cinebolso, às 11 da noite.
O senhor da direita observa. Depois chega outro senhor, que fica a ver. E eu ali, de pé, quatro metros atrás, sem saber onde havia de me meter.
O filme acaba. A luz acende-se. Os senhores compõem-se num ápice, mas não abandonam as suas cadeiras. Sei que só tenho uma “nesga” (temporal) de luz para me sentar. Passo pelo “tombadilho” e vou descendo pela ala direita. Há lenços de papel “desmaiados” em quase todas as filas. E pequenas poças de sémen moribundo, órfão e abandonado, testemunhas tristes e rasteiras das sessões contínuas do dia.
Lá consigo entrar para a sexta ou sétima fila, que está vazia. Fico mesmo em frente dos dois óculos da porta de entrada, tipo navio de luxo. Estou numa posição privilegiada para ver quem entra e sai.
As luzes apagam-se. A Katsumi começa logo com uma cena muito quente, mas o movimento na fila atrás de mim, 45 graus à direita, distrai-me. Há sussurros. Um menino de cabelo à menina tenta excitar manualmente um latagão de cabelo curto. Não percebo se vão ou não começar a acção. Aí com meia-hora de filme julgo aperceber-me de que o menino/menina pôs um preservativo no menino latagão e vá de lhe fazer um boca-doce é bom é bom é diz o avô e diz o bebé.
Aquilo durou pouco e a dupla emigrou para o pé do “tombadilho”, longe da minha vista. Mas as actividades continuaram e eles saíram juntos cerca de 40 minutos depois.

23h30m - Há sempre gente a ir ao WC, a sair e entrar na sala, a mudar de lugar. Isto é um bocado como o beisebol. A malta percebe a essência do jogo, mas há muitos movimentos que nos escapam.
Às vezes, há gajos que vêm de pé à coxia e olham para mim. Eu estou muito sossegadinho, vê-se logo que não me estou a masturbar e só olho para as pessoas para “morder a cena”. Não estou nada interessado em “ir a jogo”. Quando me olham, eu colo os meus olhos ao ecrã, tipo Malcolm McDowell no “Laranja Mecânica”. Não vá dar-lhes ideias de se virem sentar ao meu lado. Mas não acontece nada. Não sou chateado durante toda a sessão.
A minha preocupação é não deixar cair o sobretudo, o cachecol e as luvas ao chão. A minha fila parecia imaculada, mas pode ser ilusão de óptica e a esperma estar seca e dissimulada no chão azul-escuro.
Acabo por ter uma erecção quando a louríssima e belíssima Nomi faz uma senhora felação ao paciente de serviço.

24h - A sala começa a ficar reduzida na sua lotação. Às vezes saem revoadas de quatro gajos. Uns vão para o WC, outros vão embora. Há para ali códigos de comunicação que a malta desconhece.
A rapaziada que está sozinha vai acabando alguns serviços. Sinto o ranger metálico das cadeiras com uma intensidade diferente nas filas atrás de mim. Não chego a recear ser atingido em plena nuca por uma esguichadela. Simplesmente porque o perigo não me ocorreu. Sofri mais a ver o “Em águas profundas”, com o casal abandonado em pleno mar, com os tubarões a rondar.

00h20m- O filme não tem história nenhuma. É cena atrás de cena. Mas as meninas são do melhor do porno gaulês. A Katsumi tem duas cenas arrebatadoras, a Noni uma e a Jane Darling outra. Na penúltima cena, uma menina de olhos azuis e piercing na língua também protagoniza uma bela cena com o “doutor”.
Lá para trás, numa das últimas filas, dois amigos falam animadamente durante cerca de 25 minutos, completamente alheados do filme, que lhes serve apenas de “música ambiente”. Saem quase no final, muito entusiasmados com a conversa.

24h42m - Quando as luzes se acendem, há dois espectadores na sala. Eu e um gajo a dormir, lá para trás. Depois fico a saber que é um dos “arrumadores” oficiais da rua Actor Taborda, que se refugia do frio dentro do cinema. Acorda estremunhado e despede-se do funcionário: “Até amanhã”.
Consigo ainda apurar que as sessões da tarde são mais concorridas (60/70 marmanjos) e que a presença de uma mulher é rara. Os putos adolescentes não estão para se meter num esquema daqueles.
— Hoje, com os vídeos em casa, quem é que precisa de passar estas vergonhas ? — questionam-me, já perto do Saldanha.

01h10m - À volta do Técnico, para variar. Estão 8 graus dos frios. A polícia ataca em grande, com carrinhas granjolas, veículos sinalizados e à paisana. Mais uma patrulha a pé. Os polícias também se dividem em auto-polícias e pedestres.
Operações Stop. Conto 7 pedestres e duas auto-putas. Uma delas, que costuma seguir para a zona da Alameda, tem um carro novo. Conversa com um cavalheiro também motorizado, na posição “69 de estacionamento”.
Ele: “Eles andam por aí espalhados por todo o lado. Ainda agora em Chelas…”
Desço. Uma loura fresquinha sai do carro de um menino de brinco. Deve ser o manager. Não tem nada pinta de cliente. Ele terá vinte e poucos. Ela poderá ou não ter idade para votar.
Dou mais uma volta e decido abordá-la, numa das últimas investigações deste livro. Mas a patrulha da polícia vem a subir a rua. Só quero abordá-la com calma. Dou mais uma volta ao quarteirão e ela já não está lá quando passo outra vez. Desculpem lá, leitores.
Hesito em dirigir-me a outra senhora, toda de preto, já avançada nos trintas. Mas dona de uma belas pernas, emolduradas em bonitos collats cor de carvão escuro. Assim que me aproximo, pára uma carrinha Mercedes e ela parte para longe de mim e dos leitores.
Regresso a casa. Como queijo e marmelada. Bebo chá. Deito-me. Agarro no meu bloco e escrevo o diário. Em termos de escrita no computador, levo uns 15 dias de atraso. Isto vai mesmo passar dos 350 mil caracteres. Ai,ai,ai…
Quanto maior, mais dificuldades de publicação. Mas o sexo vende ou não vende?
Andei eu aqui a pedalar para quê? A tentar nadar no meio dos esgotamentos, das noites em branco, do sono a surgir no meio do basket, do ténis, do futebol…
E os filmes que não vi, no cinema, os DVD do clube de vídeo…
OK, está bem, o livro foi pretexto para andar nos clubes de strip, coitadinho de mim. Mas tudo o que é obrigação cria pressão. Já começo a sentir-me mais leve, agora que estou a dois dias de finalizar o diário. Vou registá-lo na SPA com o título provisório de “Diário sexual de um escritor frustrado”. Também era giro “Outono sexual, diário de um escritor frustrado”. E aproveito para registar o pseudónimo Rick Dart.
São 3 e 57. Estou mesmo a precisar de descanso. Resolvo tomar um Morfex. Vou começar a cortar a 1 de Janeiro.
Ano Novo, Vida Nova. A solução da minha vida é fácil: deixar de ser camelo. É só largar projectos loucos, em que dou o cabedal para depois ser comido de cebolada. A versão 2005 tem de ser “não há dinheiro, não há palhaço”.

domingo, abril 20, 2008

28 Dezembro de 2004

Toma lá Morfex e não digas que não dormes!

06h30m - Pois é! Estou acordado e tenho uma enorme consciência das minhas olheiras. O meu estado de exaustão começa a desesperar-me. Tenho mesmo de dormir mais qualquer coisa.
Já estou com o caralho do livro pelos cabelos!
Nem tinha tomado notas disto. Como acordei, resolvo ir ao armário dos medicamentos, porque já não tenho kainever. Descobri Morfex, Lorenin e Castilium.
Basicamente, são benzodiazepinas. Já sei o que a casa gasta, de outros esgotamentos. De “bombas” tomadas por causa de ruídos de obras a partir paredes, de chatices das grandes, desde perca de emprego a desilusões amorosas.

08h8m - Já tomei um Morfex e estou a escrever o diário no meu bloco.
O Morfex é jogador da categoria fármaco-terapêutica dos hipnóticos. Isso também a Valentina, por isso é que eu gostava de dormir com ela, para tratar as minhas insónias. Isto é piada, mas corresponde aos meus anseios utópicos. E não estou só a falar de sexo. Era mesmo dormir/dormir. Mas como não ando a dormir, sei que é impossível.

(Viram como ainda mantenho o sentido de humor?)

Um comprimido de 30 mg de Morfex (o meu é de 15) contém 27,6 mg de monocloridrato de flurazepan e as cápsulas possuem corantes E104, E127,E171 e E172, além de outros excipientes. Não contêm “Eh! touro lindo!”. As smarties também têm corantes, mas não pertencem ao grupo das benzodiazepinas.
Ponho-me a ler os papelinhos todos dos medicamentos e noto que o Castilium pode causar reacções paradoxais, especialmente nos idosos e nas crianças. Olhem só o cardápio: “inquietação, perturbação do sono, irritabilidade, estados agudos de agitação, agressividade, delírio, explosões de raiva, pesadelos, alucinações, reacções psicóticas, tendências suicidas ou espasmos musculares frequentes. Em caso de tais reacções, o tratamento com Castilium deve ser interrompido”.
Por acaso, eu sinto quase tudo isto por causa do Escritorium por cima de mim, a “pastilha” com que levo diariamente. Só não tenho tendências suicidas, substituídas pelas homicidas. E os espasmos musculares frequentes acontecem-me quando me ponho a nadar à bruta no final da hidro. Chamam-se cãimbras.
O Afonso Henriques é que não andava a dormir em serviço e fartou-se de tomar Castiliuns em Portugal. Numa rua de Lisboa, há tantas pessoas dependentes deste medicamento que a via se chama Rua Castilium, ali ao Marquês de Pombal.
Bom, vou ver se isto (o Morfex) faz mesmo efeito. São 8 e 20. Vou meter os tampões nos ouvidos e tentar dormir. Agora estou calmo. A gente vai-se habituando às cenas. Olha, que se foda!
Oh! Se eu dormisse em condições, o escritor que não seria!
O Mário de Carvalho também ficou com perturbações no sono por causa das torturas da Pide. E se a ironia é cultivada pelos dois, eu sei muito bem que ele é mais escritor a dormir que eu acordado. O que não me chateia nada. O que me chateia é ver um livro como “Fantasia para dois coronéis e uma piscina” a não passar a barreira dos 30 mil exemplares vendidos e uma Margarida Rebelo Pinto em baixo de forma a vender 40 mil.
Digam lá se não é de um gajo ficar à toa, ir ao Photus desesperado e gastar 124 euros em Private Dance tripla?

domingo, abril 13, 2008

27 Dezembro de 2004

Margarida divulga “Erecções”
Valentina não provoca nenhuma


Apesar dos dois kainevers, só dormi umas quatro horas. Mesmo assim foram bastante repousantes. Apanho a hidro das 10h45m. A professora Margarida gostou de me ver lá de manhã:
— Olha o Luís!
Eu também gosto de ver a Margarida, que aceita muito bem as minhas palhaçadas subversivas. A piscina está quase cheia e há cinco homens. A Margarida divulga a minha sessão de autógrafos ao microfone. Quase ninguém me conhece àquela hora, até porque há muita gente do clube da Defensores de Chaves.
Fico no jacuzzi, sauna e piscina até à 1 e picos. Apanho a Margarida a começar a aula da hora do almoço:
— Ainda aqui está?
Numa de grande generosidade poética, torna a divulgar a sessão de autógrafos no King. Mas já se tinha esquecido do título do livro. Eu relembro. As pessoas dentro da piscina riram-se. Acreditaram que eu era escritor, mas pensaram que o título era brincadeira.
— É verdade! — diz a Margarida.

15h30m -Tiro fotocópias às 147 páginas impressas deste diário. Depois vou registar à SPA, sob o título provisório de “Diário sexual de um escritor frustrado (1ª parte)”. Aproveito e registo um pseudónimo novo: Rick Dart, primo do Dick Hard. O Rick Dart será utilizado para escrever argumentos de filmes pornográficos, se a coisa acontecer.

18h - Chego ao King. Visto a camisola dos Calgary Flames. Fumo charutos. Bebo Guiness. O meu fã Filipe Alberto voltou para comprar mais umas “Erecções”. Deu as outras aos amigos. Desta vez vem com a Ana Teresa. Dou uma “Idade das Trovas” à Ana Teresa. O Alexandre Andrade também vem oferecer-me o livro dele. Depois chega a mulher do Rui Brito. Passado um bocado, chega o Rui.
O vibrador continua a rodar em cima da mesa. Ninguém liga nenhuma, até chegar uma miúda gira, de nome Sílvia, com ar intelectual. Sorri. Meto conversa e ofereço-lhe uma “Idade das Trovas”.

22h40m - Saio do King, aliviado com o final das sessões de autógrafos. O travo dos charutos Monte Cristo que me deu o meu amigo Mário ficou na boca do Luís Graça, que não fuma, ao contrário do Dick Hard.

23h30m - Chego ao Pasta Caffé. Como lasanha e crepe de chocolate. Estou arrasado.

00h15m - Chego a casa. O meu amigo Rui esteve lá a colocar uma caixa ATX e disse-me que o computador estava a funcionar. Que tinha 27 mensagens para ver.
Carrego no botão do CPU novo e aquilo faz um barulho grande na refrigeração. Fico logo abatido. Depois começa a bloquear sistematicamente. Aí à sétima tentativa lá abriu o ecrã. Tento introduzir a ficha do modem da ADSL e… adeus CPU! Escuridão total. Carrego na “ignição” e nada. Fico mesmo “blue”. Arrasado! O problema foram as expectativas criadas.
Agarro no sobretudo e vou para a rua andar. Fugir. Sem destino. Tirar a pressão de dentro de mim.
Sem saber como, chego ao Photus. Estou exausto e deprimido. O contrário do estado de espírito com que saí da hidroginástica, horas antes. Esta “montanha russa” do esgotamento é altamente desgastante.
O Photus está calmíssimo, quase deserto. É noite de segunda-feira e ainda é cedo.
Bem, vai mesmo à bruta, para tirar o desgosto do espírito: pela primeira vez na minha carreira faço um Private Triplo. Objectivo? Com duas Private com a mesma stripper tem-se um de bónus. Nem sabia como a coisa funcionava. Só faço isto porque tinha ficado muito bem impressionado com a sofisticação da romena Valentina.
Tomamos uma bebida e falamos sem “filmes”. Cada um conta ao outro a vida real. Ela acha que eu devo ser bom jornalista e escritor, porque me acha muito criativo. Eu desabafo sobre o computador e sinto complexos de culpa por isso, por estar a criar uma onda negativa.
Mas ela diz-me que é uma optimista e pergunta-me o signo. O pai dela também é Escorpião e ela dá-se muito bem com ele. Está com 26 anos e com a mania que já foi muito mais bonita, que tem o cabelo a precisar de cuidados e que necessita de ir ao ginásio.
É a minha vez de a moralizar. No estado em que estou, só me apetecia trazê-la para casa, beijá-la e dormir abraçado a ela. Estou tipo gatinho a precisar de mimos.

02h30m - Lá vamos para a Private tripla. A diferença em relação às outras é que esta dura muito mais tempo. A Valentina foi muito meiguinha. Tanto fiquei deitado de costas, na cama, como sentado, apoiado à parede. Ela fez-me olhares muito ternos. Gostava de ter tido uma erecção, para corresponder ao esforço dela. Esteve quase, mas continuo esgotado. E a Private não é Contact Dance.
Foi uma bela terapia emocional. Criámos um laço afectivo. Pelo menos eu. Antes de sair do quartinho, ela pergunta-me se está bem arranjada. E se eu fico ou vou para casa.
— Vou para casa, ver se durmo já e se sonho com um anjo louro romeno.
— Espero que sim, mas olha que o anjo não é louro natural.

03h30m - Apesar de saber que o não devia fazer, não resisto a carregar no botão do computador, quando chego a casa. Mudo e quedo. Luto cinco minutos. Não tomo “bomba” e vou para a cama. Adormeço bem, talvez devido à depressão informática e às poucas horas de sono dormidas.
O problema foi só este: acordei duas hora e meia depois!

domingo, abril 06, 2008

26 de Dezembro de 2004

Erecções no jacuzzi

10h40m - Acordo banhado em suor. Estava a sonhar que um avião da Alitalia tinham batido no meu prédio.

11h45m - Saio da cama. Estou estoirado. Dormi umas duas horas, com o pesadelo patrocinado pela Alitalia.

14h15m - Chego ao Holmes. Vou para a piscina, que está fria como um raio.

16h10m - Estou no jacuzzi, que me sabe que nem ginjas. Vejo uma miúda a entrar, com os mamilos generosos marcados no fato de banho. Sai uma erecção!
Desapareceu a erecção.
Tenho mais umas fantasias sexuais com uma recepcionista do Holmes. Sai outra erecção!
Desapareceu a erecção.

16h30m - Uma trintona entra no jacuzzi. Mais um par de seios voluptuosos.Imagino-me com ela em plena punheta de mamas, actividade muito injustamente desprezada por uns quantos intelectuais. Sai outra erecção!
Um grande beijinho para a estrela porno americana Raylene, uma especialista da modalidade.
O ponteiro do conta-quilómetros desce aos níveis normais três minutos depois.

16h45m - Uma miúda assim-assim sai do duche tropical. Vejo-lhe os mamilos marcados no fato de banho e tenho a última erecção da tarde. Aproveito uma pausa em que não há ninguém no jacuzzi para sair da água. Enrolo a toalha à volta da cintura, para disfarçar. Vou para o duche. À saída, encontro o Rui Cartaxo, que anda a treinar no ginásio todo equipado à Benfica.

17h10m - Vou ao Residence, comprar os presentes de Natal dos meus pais, que já estão atrasados, pela primeira vez na minha vida. Compro “O poder e o povo” para o meu pai, ratificado pelo Luís Leitão, um antigo colega da Faculdade de Direito, que já abandonou a presidência do Conselho Científico. Para a minha mãe vai um perfume: “Pure Poison”. A porcaria do perfume fica-me no pulso umas seis horas.

19h - Em casa, a jantar (almoçar?) todo lixado da cremalheira. Fico a cabecear em frente à TV uma meia-hora(“Preço Certo”), babando-me perigosamente perto dos pratos das sobremesas.
Por mim ia dormir, mas tenho o estômago cheio e a úlcera não ia gostar. Fico a beber chá e vejo 15 minutos da “Quinta das celebridades”, por falta de coragem para me levantar da cadeira. Vejo no rodapé o número de vítimas do Tsunami: 11 mil mortos contabilizados.

22h30m - Meto dois kainevers e vou para a cama. Tenho mesmo de dormir. Amanhã tenho a última sessão de autógrafos das “Erecções”. Escrevo o diário.

06h47m - Consulto o horário do Holmes. Não há hidroginástica antes das 10h45m. Ou durmo mais um bocado ou vou à hidro e depois fico com tempo para tratar de assuntos (correios, ver a Net na loja TMN…).

domingo, março 30, 2008

25 Dezembro de 2004

Pornografia natalícia
e bingo do Belenenses


Almoço em família.

20h30m - Felicito uma amiga aniversariante, na sua casa. Ofereço um “Fadas Láureas” autografado.

00h10m - No Canal 18 transmitem pornografia. É um sábado normal, afinal de contas. Vou dar voltas à Gulbenkian.

01h30m - Regresso a casa. No quarteirão do Galeto vão a passar duas miúgas giras e bem arreadas, com sotaque brasileiro. Call girls a caminho do bingo? Sigo-as.
Vão mesmo ao bingo. Fico no átrio a ouvir a conversa. Não tiro conclusões. São as duas meiguinhas e bonitas. Uma loira, outra morena. As portas abrem-se. Vou atrás. A sala está cheia, umas 250 ou 300 pessoas.
Elas sentam-se na primeira mesa. Há uma cadeira vazia. Sento-me na mesma mesa.

03h - Saio do bingo, sem ganhar nada. Ao lado da minha mesa, um sujeito e a namorada fazem seis bingos durante a noite.

domingo, março 23, 2008

23 Dezembro de 2004

Shower Dance com a Kátia

Ponho o despertador para as 16 e 33, mas acordo antes. O Rui vem às 18 ver o CPU do computador. Vou nadar para o Holmes.
Levamos o CPU à Triudus de Alvalade. Fontes de alimentação é que não há. Vamos alimentar-nos depois para o Galeto. Começo a ficar fatalista em relação ao computador.

23h30m - Despeço-me do Rui. Dou duas voltas à Gulbenkian para desmoer a carne de porco à portuguesa e as quatro águas Fastio.

24h - Salta-me a “tampa” e resolvo atravessar o Parque Eduardo VII outra vez, ao lado do jardim Amália Rodrigues. Não escondo nada. Fica tudo nos bolsos. Tenho umas luvas de esqui dadas pela minha prima Guida, porreiras para a “batatada”. Estou com um insólito espírito de “venham eles”.
Ninguém à vista. Na Artilharia Um há três putas. Ao todo, na zona, apenas 10. Pergunto o preço dos “beijinhos”:
— São 15 euros.
— E quanto tempo é no quarto?
— O que levar a despachar-se.
— Faz sexo anal?
— Não.
— Muito obrigado. Boas Festas.
— Obrigada. Igualmente.

00h30m - Atravesso o Parque de volta, na zona mais escura. Dou uma segunda hipótese de me assaltarem. Estou bem disposto, mas apetece-me estalo. Não sou nada eu. Sinto-me rápido e perigoso.
Nada. Só dois paneleiros perto da estátua do Cutileiro.

01h - Chego a casa. Mudo de roupa. Levo 150 euros para o Photus. Vou de gel “Carpe Diem” e perfume “Dimitri”.

02h - Chego ao Photus. Dou as “Erecções” ao Flávio, o man da porta. Deixo mais um livro para o dono, o Vítor Trindade, que me agradeceu mais tarde, quando nos encontrámos. Começo por beber Bacardi Cola. Depois passei para o Bacardi Limon.

03h - Faço “Erotic Show” com a paulista Mary. É na cama, em vez de na cadeira. São mais 5 euros. O Photus está tipo estádio de futebol na festa de natal. Uns 200 tipos lá dentro. É table dances por todo o lado. Um gajo nem sabe para onde olhar.
Fico magnetizado por uma loura da Roménia, a Valentina, que não tira a tanga. Mais tarde sei que é por causa dos convites não darem direito a strip integral. As tables estão de “atar e pôr ao fumeiro”, duram uns 5 minutos. As strippers não têm tempo de respirar.
A Mary já está muito cansada. Nem se lembrava muito bem que tinha estado no Cabaret da Coxa no mesmo dia que eu. É muito querida e pede desculpa por não me conseguir dar mais atenção. Nas costas tem um índio tatuado.
Está em Portugal há seis anos e a carrinha do “Passerelle” tinha a sua foto, em tamanho grande. Mas depois tirararam, porque a Polícia multava. A foto não deixava ver o interior da carrinha.

03h15m - Volto à sala. Encontro o Mesquita, que era do kick-boxing do Sporting. Falamos dos combates do Fernando Fernandes no Arena. Passado um bocado chegam o Quaresma (FC Porto) e o Manuel Fernandes (Benfica). Ficam sentados com o Mesquita. Distribuo “bacalhaus” e agradeço ao Quaresma o último golo no antigo estádio do Sporting. Desejei-lhe um bom 2005 a nível pessoal e as maiores infelicidades futebolísticas para o FC Porto.

03h45m - Sento-me a uma mesa com um tipo simpático. Peço a shower com a Valentina. Ela não faz shower. A Mary também não faz Contact Dance, porque há clientes que são pegajosos.

04h30m - Vou para a Shower Dance com a Kátia, lisboeta de ascendência angolana.
Dispo-me e visto-me no WC, mas não há cabides. É na base do desenrascanço lusitano. Penduro a camisa numa torneira, as calças numa argola do poliban, meto as meias no bolso das calças. Visto o macacão azul de astronauta/jardineiro e espero pela Kátia no corredor.
Lá vamos para o chuveiro. Ela pediu-me para não lhe passar com a esponja na barriga, porque tem um piercing muito recente. A ensaboadela decorre ao ritmo da música. A miúda é simpática, mas o ritmo é ultraveloz. A noite não está nada alentejana.
Volto ao WC. Seco-me e visto-me. Não há secador e existe apenas uma toalha para os clientes todos. No chão há um sacalhão com um pó branco lá dentro. Fico intrigado. Para cocaína ou heroína é demasiado produto. Tem para aí uns 15 quilos. Ponho-me de cócoras. Será cimento de cor branca? Leio as palavras por fora do saco. Mas aquilo está em várias línguas. Lá descubro a solução do mistério: “pasta de agarre para juntas”. Parece que é para afagar os solos e juntar as placas. Soube mais tarde, por quem percebe do assunto.

05h10m - Saio. A conta é de 94 euros.

06h04m - Estão 5 graus. Ainda há cinco putas pedestres e uma auto-puta à volta do Técnico.

06h30m - Entro na pastelaria “Flor das Avenidas”. Tomo uma água das Pedras.

06h40m - Não me apetece sofrer, para saber se durmo. Tomo dois kainevers. É um último esforço por este diário.

domingo, março 16, 2008

22 Dezembro de 2004

Amor entre mulheres no “Nocturno 76”

Acordo pelas 14 e picos. Dormi sem “bombas”. Nado no Holmes, almoço e depois vou de comboio até Queluz, ver o basquetebol. Assisti a uma vitória histórica do Queluz sobre os israelitas. O meu amigo Rui telefona-me a combinar a mudança da fonte de alimentação do computador.
Apanho boleia com o Barros, do Record, e ainda vou à Luz assistir ao hóquei, entre o Benfica e o Paço D’Arcos (7-4), para a Taça de Portugal.

22h40m - Janto na Catedral da Cerveja. Só quando me levanto reparo que tem vista para o estádio! Estou bonito, estou! Descubro que 80 por cento dos empregados da Catedral são do Sporting!

23h45m - Estou na Worten do Colombo. Na zona dos DVD porno, o Frota ocupa praticamente todo o escaparate. Com dois filmes. Mais tarde há-de chegar o “Obsessão”. Até aqui Portugal não tinha frota de jeito. Mas este Frota chegou e venceu. Que pensará disto o Paulo Portas, que sempre lutou pela dignificação da frota portuguesa?

23h50m - Encontro outro amigo chamado Barros, à porta da FNAC. Dá-me o conselho de me despachar. Afinal a loja só fechava à 1 da matina. Horário de Natal. Compro um DVD dos Deep Purple como presente de Natal para o meu primo “Palhinhas”, “O perfume” para o meu primo Helmut se habituar a ler em português e um “Underground” do Kusturica.
Pergunto pelas minhas “Erecções”. Já acabou o “stock”. Quantas tinham? Mistério. Não estava no computador. Eu bem tento caçar as minhas “Erecções”, mas está visto que é uma espécie de culto em vias de extinção.

00h25m - Saio do Metro em S. Sebastião e tomo o caminho de casa. Passo em frente do “Nocturno 76”. Olha, é mesmo agora! Ando para trás um bocado, saco 100 euros do multibanco e lá vou eu!
Peço um Drambuie com duas pedras de gelo (15 euros, o preço do consumo mínimo) e sento-me num óptimo lugar. Coxia lateral, de frente para o DJ e vista para o pequeno palco espelhado, que terá 2 metros e meio de altura por quatro metros, medidos a olhómetro.
Mais pequeno que um tubarão branco. Talvez por isso as meninas se mexam devagar, como se o Manoel de Oliveira lhes treinasse os strips. Só duram uma música, por isso vão dos 3 minutos e meio até aos 5 minutos, no máximo. As peças de roupa saem devagar, mas há muito pouco para tirar.
A Anita (brasileira de S. Paulo) está no palco. É uma morena de fogo, sorriso largo e corpo de pecado, com bumbum que só não roça a perfeição porque é feio as pessoas roçarem-se.
Gostei. Fico logo com vontade de pedir uma Private a 40 euros. Mas contenho-me. Estou ali para observar o que mudou no “Nocturno 76”, onde me divertia em grupo de amigos, há uns 15 anos.
De 15 em 15 minutos sobe ao palco uma stripper. Vêm a Alex e a Tina (Letónia), que são irmãs. A Alex chegou primeiro a Portugal e depois veio a Tina, que grama bué o marisco português e o clima. A Salomé, checa matulona de formas voluptuosas, é a mais divertida e expansiva de todas. É anunciada pelo DJ como “artista”, na altura de subir ao palco. Corrige-o de imediato:
— Magnífica artista!

1h15m - Acabo o meu Drambuie. Bem… é para a desgraça, é para a desgraça! Peço desculpa à minha úlcera, mamo um Compensan e vou buscar um Bacardi Cola.

1h30m - Vem ter comigo uma romena. Chama-se Laura, está em Portugal há dois anos e praticamente só conhece Lisboa. Passados 20 minutos de conversa tenta cravar-me uma bebida. Ao invés, dou-lhe uma rosa de 5 euros, muito manhosa, vendida por um “kerfrô” sniper. Aquilo é um murchanço maior do que o meu no Peep-show. Laura aceita a rosa com ar de resignação. Nasceu perto da Hungria. Falamos do Drácula, da rota dos Cárpatos, do Hagi. A chavala já lhe dá uns 55 anos. Porra para a menina. Velho já eu me sinto!

02h - A brasileira Lady está mesmo à minha frente, sentada com um gajo possuidor do “mais bom aspecto” da noite. É cliente de garrafa, charmoso, sedutor. A menina pede um cocktail. E ele para o empregado:
— Não tem Água das Pedras?
Depois sugeriu “água del cano”.
E a menina:
— Só posso beber cocktails.
E ele:
— Então e não é cocktail? Tem oxigénio e hidrogénio!
Lá acaba por pagar a bebida e esteve mais de duas horas com a Lady. Despede-se com dois beijinhos na face. Um verdadeiro cavalheiro, bem disposto e civilizado. O sonho de qualquer clube de strip.

02h25m - Começa a segunda volta das strippers, com a Anita. Usa muito o branco, para contrastar com a sua deliciosa mulatinagem. Os collants brancos não chegam a sair das suas pernas longas e bem torneadas. Se bem me lembro, dançou um “hit” do João Pedro Pais. As músicas escolhidas falam sempre de amor, os olhos delas sugerem sempre sexo, os corpos sabem a pecado, os clientes sonham. A vida é mesmo assim.
Marco um Private com ela. Não sei que saída está a ter. O chato do meu lugar é que não vejo bem a sala. Gostava de ver melhor o ambiente.

Lá vou para o Private. Ela toma-me a mão e pergunta-me o nome. Entramos para uma cabina pequena.
— Quer que me ponha no meio, não é?
— Sim. Quer a outra cabina, que é maior?
— Eu quero o que a Anita preferir.
(Anita! Anita! Anita! dizia o anúncio do detergente)
Ela leva-me para a cabina do lado. Sento-me no meio de um sofá confortável, em forma de ferradura, com cerca de metro e meio. Nos bolsos tenho uma carteira da Playboy (com menos cartões do que a carteira titular, que é um verdadeiro tijolo), telemóvel, chaves, protector labial contra o frio, lenço, Compensan. Ela topa o volume e manda-me tirar tudo. Dá-se um pequeno toque querido no Luisinho.
— Isto não tira.
— Pois é, às vezes faz falta.
Anita monta-se no meu colo. Tem um estilo de Private diferente. Não faz a coreografia com aqueles exercícios obrigatórios da Roçagagem Artística. Prefere promover um contacto mais próximo. Abraça-me. Coloca os meus braços à sua volta. Abraço-a.

Digo que o meu pai nasceu em Manaus. Ela fica interessada e vamos falando. Acha que sou um cliente diferente. Muito simpático. Acho que não é música. Naquela altura era mesmo o que ela pensava. Digo que os Escorpiões são assim, simpáticos e tímidos. Ela não me achou nada tímido. Garanto-lhe que sou. A extroversão não implica ausência de timidez. É um complemento. A minha costela teatral e a estaleca do jornalismo é que disfarçam muitas vezes a timidez.
Cola o seu rosto ao meu. Deve ter aspirado o perfume “Dimitri” da minha barba. Toca com o seu nariz no meu, tipo esquimó. Arrisco viagem manual até aos seus mamilos. Erectam-se quase automaticamente. Abençoados trópicos calientes do Brasil!
— De que clube é?
— Flamengo.
— Flamengo, uma paulista? Sua traidora!
— Pois é.
— Eu sou do Sporting.
— Em Portugal sou do Benfica.
— Olhe, venho de lá agora!

Vira-se de costas. Gira o bumbum no meu Luisinho. Os dedos tocam nele ao de leve. Continuo de calças de bombazina. É uma pena. Anita confessa-me que também é Escorpião, de 21 de Novembro.
Ah! Por isso o magnetismo foi automático.

(Deves ser é parvo. A gaja era boa todos os dias, essa é que é essa)
(Quem está aí?)
(É o Dick Hard, ó estúpido!)
(Sai daqui, meu!)

A Private acaba abruptamente. Ela agradece-me.
— Muito obrigada. Você levantou mesmo o meu astral. Hoje estava um pouco assim, sabe… você deu-me tanta energia positiva…

(É música, meu. Deste foi 40 euricos)
(Cala-te, Dick. Nem sempre é música)

— Gostava de continuar a falar com você. Mas agora tenho de ir ter com um amigo. Pode esperar?
— Posso. Mas aviso já que não lhe vou pagar cocktails. Já estou nos limites do meu orçamento de jornalista.
— Não faz mal. Apreciei a sinceridade. Depois vou ter consigo. Obrigada mesmo.
— Obrigado eu.
A Anita vai-se vestir e volta à sala com outro vestido branco, coleante. Realmente o branco é o que lhe cai melhor.

03h - No palco continuam a Jennifer brasileira, a Lady brasileira, a Salomé checa, a Tina da Letónia, a Alex da Letónia. Não me lembro de ter visto a Laura da Roménia.
É mais normal as brasileiras falarem umas com as outras, mas parece que o ambiente global é bom e as de leste falam com as brasileiras. Em português. O inglês não é usado.

04h15m - A Anita não volta. Já bebi três águas Castelo, em homenagem ao avô Ayres Nunes, marujo de mulheres várias, uísques muitos, cigarros Sagres e uns olhos cinzentos que diziam sim ao mundo todos os dias.
Um dia faltou-lhe o ar e desistiu sem avisar, como diria o Neves de Sousa.
Chorei três lágrimas na varanda, com vista para as nespereiras, senti o peito a desfazer-se em puzzles, depois sorri por dentro e fiquei com a alma cheia de tesouros, para recordar eternamente.

— Ó macaco! Então nas strippers? Lembra-te: nunca vás às putas sem ter um limão para pôr na sarda depois. Espreme lá para dentro. Vais ver que o limão arde, mas safa-te de chatices. Foi um conselho que me deram e resultou. E não abuses das punhetas!
— Ó avô! Eu não bato punhetas nem ando nas putas!

Cuidado com os idos de Dezembro/1980, diria o áugure a Júlio César. Numa quinzena, morreram o meu avô, o vizinho Presas, o Sá Carneiro e o John Lennon.
É também por isso que vou aos clubes de strip. Para fugir da morte. A beleza dos corpos e a música que me faz bater o pé e abana o capacete são aspirinas contra a morte.
Vou dar um abraço ao DJ, um ex-viola baixo da banda residente que já não existe no “Nocturno”. É todo ele 1 metro e 90 de magreza e fraternidade.

— São 28 anos de casa!
— Já merecia uma medalha!
— Já tenho! Já tenho!

04h30m - A Anita não volta mesmo. Está a trabalhar o “amigo”, que lhe vai pagando cocktails. Eu levantei-lhe o astral, ela vai baixando o saldo bancário do “amigo”.
As outras strippers não me abordam. Já perceberam que o Barba-Branca não paga copos. É mais de jogar ao king e gritar desalmadamente:
— Oito ou nulos!
Como elas não me dão oito (fodas, beijinhos, boas histórias, sorrisos, o que quiserem) vou para nulos.

Os amigos que me acompanhavam ao “Nocturno” há 15 anos também jogavam para nulos com elas.
— Posso tomar uma bebida com vocês?
— À vontade. Podes servir-te da nossa garrafa.
— Não posso beber uísque. Só cocktails.
— Então é pena, estamos numa de uísque.
Muito cocktail beberam os vasos das plantas, quando o “Nocturno” tinha strip e alterne. Os construtores civis já bem bebidos olhavam para o lado e lá ia champanhe para o vaso. E depois vinham mais garrafas. Mas as meninas eram quase todas portuguesas e o strip era muito mais cuidado.
Lembro-me dos strips do Queen’s, ali ao Rego.
A Lady Vampirella que fazia strip dentro de uma ostra que abria e fechava! (E mesmo assim não conseguia comer a gaja)
A Arlette Fiorano que entrou em palco toda nua e acabou completamente vestida!
No “Nocturno 76” lembro-me de ume pequenina loira, de seios tenros, de nome Joana, que ficou a falar comigo. Eu fazia colecção dos autógrafos delas em bases de copos.
Eram noites fraternas.
Às vezes, lá vinha uma tentativa de “garruço”, como no “Coche Real”, às portas de Benfica, há uns 20 anos.

— Que conta é esta? 24 contos?
— Pois. São três garrafas de uísque.
— Mas cada garrafa é a 7 contos. Ora, 3 vezes 7 são 21.
— Certo. Mas e as senhoras?
— As senhoras? — perguntou o mais atrevido do grupo, que depois meteu os forros dos bolsos para fora.
— Ó rapaziada, vejam lá se levam alguma senhora no bolso, por engano. Eu bebi uísque, não bebi senhoras.
— Está certo. Mas… e a companhia?
— Qual delas? A Fidelidade? A Bonança? Companhia tenho eu com as minhas namoradas.
Bem, a coisa foi azedando um coche.Um coche real. De repente, dois amigos do nosso grupo sacam do cartão de sócio da PJ e a matemática voltou a ser uma batata. 3x7 igual a 21 e noves fora nada.
— Eh! Pá, vocês deixaram-me mal, que eu sou amigo do homem! — disse um gajo do grupo para o pessoal, já em plena madrugada das portas de Benfica.
— Ah! Este artista das contas é teu amigo! Hás-de arranjar-me mais amigos destes, que eu tenho montes de notas nos bolsos e não sei o que lhes hei-de fazer.
Para trás tinham ficado Dulce Guimarães e o seu grupo de lambada. E um voo picado do Totó em direcção ao órgão eléctrico, agarrado in extremis por um de nós, pela aba do casaco. Em cada noitada havia sempre um ou dois bêbedos de serviço e um piquete de dez ou doze amigos para tomar conta da situação. Até eu usei o WC do “Nocturno 76” como vomitorium, à boa moda romana. O Carlos Xeque-Mate foi lá ver como eu estava.
— Estás bem?
— Estou. É só despejar e já volto. Estava a ver duas strippers iguais lado a lado.
— Tens a certeza?
— Tenho a certeza de que vou ficar bem. Quanto às strippers, é capaz de ser apenas uma.
— Bem, vê lá…
Vi lá. E voltei à sala. Diz o Toninho, já informado dos últimos acontecimentos:
— Por acaso estava a achar o teu ritmo estranho, a beber de urgência. Tu nem gostas muito de uísque.
— É este clima de pecado que me obriga a beber para esquecer.

04h45m - Últimos strips. Acabo a água Castelo. A Anita continua no mesmo grupo de amigos. Mudo de poiso, para ficar a ver tudo de frente. Perdi a esperança de que viesse falar comigo. Mas o seu terceiro strip foi deslumbrante. Um vestido branco, com flores verdes, ao som de Dulce Pontes, a cantar um dos maiores clássicos de Amália.Até me arrepiei. E o barman não resistiu a cantar um pouco.

04h50m - A Anita e a Jennifer são pagas para fazer duas table dances com duas clientes brasileiras que estavam com o grupo de amigos. As brasileiras não são habitués da casa. O DJ nunca as tinha visto. Aquilo foi mesmo de surpresa, que sabe melhor mas pode fazer mal ao coração.
Os quatro amigos, algo anafados, já bem bebidos, preparam-se para gozar o prato. As amigas brasileiras estão sentadas no sofá do canto da sala. Anita e Jennifer avançam, decididas e divertidas com a surpresa das clientes. Há uma nota de grande erotismo no ar, mesmo que nenhuma das quatro brasileiras em acção revele particulares tendências lésbicas.
O show decorre num ambiente intimista.Praticamente já não há clientes para além deste grupo. Salta-me a “tampa”. Avanço para uma cadeira mais próxima, sem pudores de observar. Não é o sexo que está em causa. É a malícia da situação, o jogo. Algo como misturar uma Guiness com uma Heineken.
A deliciosa “mélange” entre as “Ligações Perigosas” de Choderlos de Laclos, um filme porno com cenas lésbicas, uma comédia estilo “American Pie” e um relato extraído do “Satíricon” de Petrónio, que li nos meus 15 anos.
Não tenho nenhuma erecção, mas a sensualidade que paira no ar põe-me o coração a bater ao ritmo do Animal, dos Marretas. Aquilo dura-me o show todo. Não me salta pela boca porque estou com os antebraços apoiados nas costas da cadeira e as duas faces do rosto agarradas pelas mãos, como se estivesse concentrado na leitura de um livro como “Auto de fé”, do nobelizado Elias Canetti.Em que se fala de xadrez e de Capablanaca.
Na sala, as pedras de xadrez estão distribuídas. Os quatro amigos observam, a sete metros de distância, impávidos e serenos. Eu estou a uns 15, ângulo bom.
Anita senta-se ao colo da menina mais bonita e reproduz os movimentos que faria com um homem. Se a fricção nas zonas baixas não redundará no mesmo efeito, o contacto com os seios da cliente produz grandes efeitos na obsequiada. Morde os lábios, vibra. Os olhos brilham. Está mais que curiosa, está excitada.
— Estão gostando, não é? — atira para os amigos que pagaram o show.

É isso que a atrai? Saber que o show lésbico é o sonho de muitos homens heterossexuais? Talvez. Mas ela está a adorar o trabalho delicado e profissional das strippers.
Por sua vez, as strippers estão a adorar o jogo. É uma coisa diferente. Querem provar que também sabem excitar as mulheres.
Anita põe a sua menina louca.
Jennifer provoca prazer na sua brasileira, mas ela não quer dar-se totalmente ao prazer que certamente está a sentir. Está embaraçada. Deve achar que a sua sexualidade pode ser posta em risco.
A meio dos dez minutos de show, Anita e Jennifer trocam de menina.
A brasileira que estava com Anita entrega-se logo. Toca na stripper. Arrisca. Jennifer abraça-a. Toca-lhe nos seios. Ela agarra a mão da stripper e coloca-a entre as suas pernas.
Os amigos topam o seu delírio e um deles exclama:
— Eh! Lá, ela não pode tocar!
— Não pode tocar? Não pode tocar é piano.
Mas as strippers continuavam a pianar o corpo bonito das clientes, que se mantêm totalmente vestidas. A menina mais desinibida continua a tentar avanços com Jennifer, que toca e foge. A cliente, totalmente no clima, acusa, meiga e maliciosamente:
— Côvardi! Côvardi!

O show acaba num clima de grande cumplicidade, com as meninas a trocarem beijinhos com as strippers. Agradecem umas às outras.
Já há strippers a sair do clube. Outras ficam a conversar no bar, no primeiro andar. Vou para perto dos vestiários, para dar um beijinho de despedida a Anita. Ela sai dos vestiários e praticamente não me liga. Quase arrasta um cliente do grupo de amigos para uma Private Dance.
Vou pagar ao bar. A barwoman também é de S. Paulo. Cheia de jogo. Dou quatro notas de 20 para pagar 74.50 euros. Ela retira 50 cêntimos e avisa:
— Esta vai para o mealheiro, está bem?
Olho para o mealheiro gigante, de argila, dos antigos. Vou buscar o blusão ao bengaleiro. Faço um quatro com as pernas e meto mais dois euros e meio na ranhura. Ela ri-se.
— Eu já não faço isso.
Saio. Duas meninas saem de carro. As outras chamam táxis, parados na praça quase em frente do Nimas.

05h05m - Passa um autocarro 42 completamente vazio, a caminho da Ajuda. Encontro o meu amigo Mário, do Galeto. Faço-lhe companhia na paragem de autocarro.

05h25m - Uma volta ao Técnico. Ainda há três pérolas de ébano e duas brancas. Das pedestres. E mais três auto-putas. Uma é a D. Maria das válvulas desapertadas. Está a falar para um carro, com um casal de jovens. Por certo conhecidos. Não tinham pinta nenhuma de clientes:
— Era vira o disco e toca à vez… o bófia ‘tá nervoso…
Na Alves Redol, dois bêbados mijam na placa central. A puta que crava cigarros ao Tó-Zé avança e esconde-se na esquina. Também resiste ao frio.
Venho para casa. Escrevo o diário. Já tomei um kainever. Só para assegurar que vou dormir qualquer coisa. Amanhã (hoje) tenho a festa do Photus e a shower dance.
A seguir repouso, na Consoada e no Dia de Natal.
São 08h13m e tudo vai bem.

domingo, março 09, 2008

21 Dezembro de 2004

Quase nu no meio da rua

Faço mais uma “directa” involuntária, com insónias. Vou até à piscina do Holmes. Participo num simulacro de incêndio e saio para a rua de touca, calções de banho e chinelos. O pessoal levou aquilo um bocado na reinação e pouca gente se dispôs a ir até à esquina.
A seguir ao almoço ando à caça de “Erecções”, para que não faltem na última sessão de autógrafos. Consigo algumas. Na Bulhosa do Campo Grande compro o último livro de poesia do meu amigo Mexia. Fiquei muito atraído pelo poema “Nevermore”.
Vou até ao pingue-pongue do Inatel. Um dos meus colegas de grupo lê “A mãe” (do Gorki). Alguns dos meus smashes passam-lhe ao lado por pouco.
Está mesmo mergulhado na leitura. Venho a casa jantar, já todo flipado com a “directa”. Ainda vou juntar-me à Tertúlia BD no bar “Cem nomes”, na Rua da Rosa, um espaço muito simpático. Bebo um chá, como uma fatia de bolo e compro um livro: “Cidade do Strip”, (bem)escrito por uma ex-stripper americana.
O pessoal da Tertúlia BD notou a overdose de “Água Brava” no meu rosto. Riram-se à brava. Comprei um frasco na perfumaria ao lado da Bulhosa. Com a cabeça toda flipada, pus a colónia na barba como se fosse after-shave. Reflexo condicionado de há 20 anos.
Venho para casa de boleia com o António. Exagero a comer sortido húngaro e fico indisposto.

domingo, março 02, 2008

20 Dezembro de 2004

Computador K.O!

Vou para mais uma sessão de autógrafos no King. Vou jantar ao restaurante chinês e dou duas de conversa com o meu amigo José Eduardo Agualusa, que também tinha estado no King a ver um filme. O jantar com o meu amigo Gastão Salvado decorre a contento. Vimos a pé para minha casa. Ele vem confirmar o meu diagnóstico do computador. O CPU foi mesmo à vida. Venho depois a saber que um “pico de energia” (após algumas horas sem luz) me lixou a vida. Olha que porra, EDP!

segunda-feira, fevereiro 25, 2008

19 Dezembro de 2004

Rivette em baixo de forma

Acordo pelas 16h30m. Almoço. Vou comprar bilhete para o “Histoire de Marie e Julien”, ao Nimas, para a sessão da noite. O Vera Jardim está a sair da sessão da tarde.
Levo uma seca. O filme arrasta-se. A Émanuelle Béart está magnífica, como sempre, mas mesmo assim levo uma seca. Que saudades do Jacques Rivette de “A bela impertinente”.
À saída, venho atrás de uma miúda gira, sem intenções malévolas de qualquer espécie. À conta das mudanças no trânsito da Av. República, ia levando uma “passa” de um táxi. Ainda gritei, mas se o táxi não travasse a miúda levava mesmo uma “passa”.
— Bem, só tinha vantagem se fosse antes de entrar para o filme…
Ela riu-se. Falamos sobre o filme (ela gostou) e acabo por levar a miúda a casa. Mais tarde descubro que é frequentadora do Galeto e que temos amigos comuns.
Saio do Galeto pela madrugada e chego a casa. Tento ligar o computador e nada. Perco 45 minutos de gatas, a ligar e desligar as fichas todas. Entro em «parafuso». Tomo dois kaineveres.

domingo, fevereiro 17, 2008

18 de Dezembro de 2004

Em Peniche, a ver os faróis do litoral oeste

Tento dormir às 7 da matina. Às 8 meto um kainever. Pelas 9 devo ter adormecido. Pelas 13 e 45 sou acordado. Tenho perto de uma hora para chegar ao Campo Grande. A minha amiga Inês Ramos vai dar-me boleia para o forte de Peniche, onde decorre o lançamento do livro “Guardiães do Litoral Oeste”, com texto de Carlos Baptista, fotos de José de Deus, prefácio do professor Martelo e design da minha amiga Inês.
O nosso carro leva Deus ao volante e a Inês ao lado de Deus; atrás, da esquerda para a direita, a Alexandra, eu e o actor e escritor Álvaro Faria, que leu textos do livro. E bem, como seria de esperar.
A obra está mesmo bonita e o lançamento foi muito interessante. Compro uma data de coisas na loja de artesanato. Durante o lançamento ocorre-me um verso à Dick Hard: “Ó amigo faroleiro/que olhas de longe o mar/só podes ser punheteiro/não tens ninguém para amar”.
O dia foi muito agradável. Fomos num pulinho ao Cabo Carvoeiro, antes de chegar ao forte de Peniche (ou fortaleza, é a mesma coisa). Por acaso o dia até é histórico. Cumpre-se um aniversário da fuga do dirigente comunista Dias Lourenço.
Chegamos com uma hora de avanço para o lançamento e assim ainda vamos tomar qualquer coisa a um café que anuncia como petiscos “caracóis, amêijoa branca, camarão, polvo e navalheiras”. Nas bebidas, particular destaque para a variedade: brandymel, mel doiro e lacrimel, a 2 euros.

17h35m - Na televisão vemos o Wayne Rooney a falhar um penalty para o Manchester.

18h05m - Provo uma água de 33 cl de uma marca que não conhecia: Caldas de Penacova. Não é má. Inicia-se o lançamento.

20h (mais ou menos) - Saio do salão nobre do forte e dou com a potentíssima fotografia que está no átrio: o povo em reivindicação, a 26 de Abril de 1974, um dia a seguir à revolução. Lê-se um cartaz: “Peniche exige forte para visitar e não para ficar”. O registo é de António Alves Seara. Ao lado, uma lápide assinala que a libertação dos presos políticos só ocorreu no dia seguinte.
Agarro-me às grades e vislumbro um parlatório, com a indicação expressa de que as conversas tinham de ser mantidas de forma a que o guarda pudesse ouvir tudo o que se dizia.

21h30m - O pessoal amigo janta todo junto. Ele era feijoada de búzios, ele era picanha, ele era caldeirada.
— Mas ouve lá, vens para Peniche comer Picanha? — disse Deus ao co-autor Baptista, o antropólogo engravatado do dia.
— De peixe ando eu farto. Quero comer bem — respondeu o sobrinho do faroleiro, sem temor a Deus.
— Então e uma feijoada de búzio não é comer bem?
Acordou-se que sim. Deus ainda comeu caldeirada.
E a malta regressou a Lisboa. Com uma paragem na área de serviço deserta. A série da TVI ouvia-se através dos altifalantes nas casas de banho. Quando cheguei a casa, a Alexandra Lencastre estava a cabriolar no Passerelle, com um corpete vermelho de se lhe tirar o chapéu. Mas o Joe Cocker, a Kim Basinger e o Mickey Rouco não estavam presentes.
Vou-me ao computador, ligo a Net, abasteço a Inês de poemas, retribuo votos de Boas Festas, peregrino pelo quartzo-feldspato-mica, vejo o último kuentro, com as minhas fotos encimadas pelos habituais balões subversivos do Jorge Machado-Dias.

domingo, fevereiro 10, 2008

17 de Dezembro de 2004

Recupero os sonos e leio jornais e revistas

Durmo bem. Recupero. Vou nadar para o Holmes. Chego a casa e vejo o final do FC Porto-Moreirense (1-0). Leio montes de jornais e revistas. Na Maxmen de Janeiro (sim, já saiu) descubro a Maria Wood, uma brasileira modelo do mês. Uma beleza de estontear. Um homem não é de pau, mas não me importava de ser pau para toda a obra com esta Maria. Ainda dou com mais miúdas de cortar a respiração noutras publicações. Já nem sei onde vi a Soraia. E nem chego a abrir a Playboy brasileira ou a ver a Photo francesa. Nem leio a crónica do Ricardo de Araújo Pereira na Visão.

segunda-feira, fevereiro 04, 2008

16 de Dezembro de 2004

O Nuno Marques pôs-me a dormir no ténis

Mais uma noite de insónias. Mais uma directa involuntária. Mais uma hidroginástica matinal com a Sara, que é muito querida e me pediu para não chapinhar na água, a fim de não molhar as lentes de contacto dos outros imersinhos. E eram muitos, a abarrotar na piscina.

15h30m - Chego ao CIF e reencontro essa feliz família dos jornalistas que usualmente cobrem o ténis.

19 horas - Descemos até aos courts onde decorrem os jogos do Masters TMN. Um frio do caraças. O Nuno Marques vence o Tiago Godinho por duplo 6/4 e o jogo agradou-me muito. Mesmo assim, à conta da “directa”, adormeço por uns 15 minutos no segundo set. Acordo com o telemóvel do Pedro Keul (Público) a tocar ao meu ouvido.

22h30m - Vou jantar com o Manel Perez (O Jogo) ao Gordinni (tem lá uma empregada russa, lourinha, que é um mimo), no Estoril. Damos com um cartaz a anunciar a greve dos trabalhadores do casino. Experimentei uma lasanha nova, de que gostei. O Manel tem a atenção de me vir trazer a Lisboa. Combino entrevistá-lo para a TV Guia, em Maio, revista para a qual cobrirei o próximo Estoril Open.